13 de janeiro de 2014

Amour


Em plena época de exames (ainda me faltam 3 exames - um dos quais amanhã - e uma revisão da literatura, oh yeah!) precisava de alguma coisa para me distrair e apetecia-me ver um dos filmes que já tenha na calha há algum tempo. Como quero ver filmes em francês (vou fazer um exame em setembro) a minha escolha caiu sobre Amour, de Michel Haneke. 


Normalmente, vejo filmes como quem come rebuçados: saboreia-se no momento, sabe bem, e venha o próximo. Não é costume que os filmes me toquem de uma maneira especial ou sequer que fique a pensar neles. Não foi o que aconteceu com este filme. Queria um filme para me distrair e descontrair. Também não foi o que consegui, mas foi muito melhor!


O filme é sobre um casal de idosos - George e Anne - cuja esposa teve um problema no coração. Como a operação corre mal, fica paralisada do lado direito. Todo o filme mostra a evolução da doença e a dedicação constante do marido para com a esposa. 


O filme chama-se Amour. Amor, em português. E ao longo de todo o filme nunca se fala de amor. Nunca se vê um beijo ou um simples "gosto de ti". Mas ninguém duvida do amor entre aquele casal, palpável e profundamente enternecedor. O final deixou-me arrepiada, confusa e angustiada.


Muito bom mesmo. Contudo, tem alguns aspetos negativos: a lentidão nalgumas cenas é exasperante e, na maioria das vezes, na minha modesta opinião de quem não percebe nada de cinema nem tem pretensões disso (e este filme ganhou a Palme d'Or de Cannes), completamente desnecessária. Infelizmente, é característica comum no filmes que já vi que ganharam a Palma. Não sei se é padrão ou condição necessária do prémio, mas para mim é extremamente irritante, ou então demasiado para o meu espírito acelerado. 

Palme d'Or, a deixar irritados vários espetadores desde 1955
Quase fiquei arrependida de o ter visto, pois ficou-me mesmo a mexer na cabeça e não paro de pensar nele. Aconteceu o mesmo à minha mãe, e passámos parte da hora de almoço a falar sobre ele. Aquele filme retrata a vida, fez-me pensar na velhice em geral, na velhice de pessoas (queridas e menos queridas) com quem tive ou tenho contacto, na nossa própria velhice, nas características que devo procurar num futuro marido (mais coisas a juntar à lista...), no sentido da vida, na eutanásia, no que é, afinal, o amor e o casamento. Em demasiadas coisas para uma época de exames stressante, mas que teve a coisa boa de me fazer relativizar. 

E depois, é tão raro ver pessoas "a sério" no ecrã. E velhos. Normalmente, os filmes são sempre sobre gente nova e gira, ou então ridiculamente feia. Raramente se vê filmes com pessoas reais.
Também aparece por lá a Rita Blanco, o que para mim foi uma surpresa, e uma surpresa agradável!

Gosto muito desta senhora! :)

2 de janeiro de 2014

O Véu Pintado - filme e livro, assim, tudo de seguida para começar bem o ano!


Todos já sabem (aqui e aqui) que eu adoro o Maugham quase de paixão, quase como uma doença, ali a roçar a obsessão. Eu simplesmente venero o homem, ou melhor, o que ele escreve. Ou melhor ainda, o homem que ele deixa transparecer que era por detrás do que escrevia. Não sei se foi perceptível, mas cá fica a ideia. 

O meu amigo Hélder - que é sem dúvida o melhor amigo que alguém pode ter, pois ouve sempre o que eu digo e, mais espectacular de tudo, na grande maioria das vezes (quase que me arrisco a dizer "sempre", mas seria demasiada petulância) está de facto a prestar atenção - ofereceu-me no meu aniversário o livro O Véu Pintado do Maugham. Claro que o devorei rapidamente e claro que a minha parte favorita foi o prefácio. Na capa apareciam dois actores, portanto deduzi haver um filme do livro, e de facto assim era. Apressei-me a sacá-lo da net arranjá-lo de uma maneira completamente legal mas o raio do bicho não corria de maneira nenhuma. Felizmente, na feira de Oeiras onde costumo vender doces a minha irmã encontrou o DVD por 2 euros, mas como não tinha DVD, só o pude ver agora. Ontem, para ser mais precisa.

O que as duas coisas têm em comum - livro e filme - é que ambos me deixaram desapontada. Esperava mais do livro, esperava mais do filme. Outra coisa que eles também têm em comum é que são ambos muito bons ainda assim.


A história é sobre uma mulher (Kitty) casada à pressa com um bacteriologista destacado em Hong Kong (Walter), por medo de ficar solteira para sempre. Aborrecida num casamento com um homem com quem não tem nada em comum, toma como amante Charles Towsend, o secretário colonial adjunto. Quando o marido descobre, tem a atitude peculiar de viagem rumo a Mein Tan-Fu, onde está a dar-se a maior epidemia de cólera dos últimos anos sobre o pretexto de trabalho. Lá têm como único vizinho um homenzinho muito interessante chamado Waddington, que é a minha personagem preferida, e a Kitty vai-se dedicar a ajudar um grupo de freiras francesas que dirige o orfanato local. 

Olhem para eles, tão queridos! Parecem tão felizes, não parecem? Pois é, não são!

Gosto muito da história e ainda gosto mais da maneira como está contada. Adoro histórias trágicas e estranhas, mas escritas com aquele humor irónico que é característico do Maugham. Acho que é dos poucos livros que li em que nenhuma das personagens é, por assim dizer, boa pessoa (mas isso também é quase regra no Maugham). O filme, apesar de muito interessante, afasta-se por vezes bastante do livro, o que me irrita sempre nos filmes baseados em obras. Não gostei nada que tivessem alterado completamente a minha cena preferida no livro para uma cena sensaborona no filme (não vos vou dar mais pormenores, porque não quero estragar surpresas). Mas são coisas que acontecem!´

Veredicto: Leiam o livro, mas assegurem-se que tem o Prefácio! E depois, se estiverem interessados, vejam o filme.

 E aqui têm o trailer, para quem quiser ver (para não variar revela de mais o filme mas ainda assim está dentro dos meus limites do aceitável)